Antes da gravidez e ao longo desta, estudei muito sobre fisiologia do parto e amamentação e li vários livros sobre estes assuntos, entre os quais destaco os do pediatra Carlos González. Preparámo-nos imenso para o parto e a amamentação, mas não nos lembrámos de pensar como seria o pós-parto e, assim, depois da pequenita nascer, num ambiente intimo e respeitado, caiu sobre mim uma sombra cheia de cansaço, dores, fraqueza, tristeza, inseguranças… E uma bebé que não parava de chorar!
Nos primeiros três dias, a A. mamava com muita força, pegava na mama sempre que tinha oportunidade e mamava, mamava e mamava, mas eu não sentia nada na mama e, quando apertava para ver si saia alguma coisa, não saia nada. Não conseguia ver o colostro ou leite… Nada. Mas era maravilhoso ver como ela, com os seus dois dias, lutava com força pela sua vida e alimento.
Após três dias, acordei com a mama muito, muito cheia e, finalmente, consegui ver o leite sair. Que importante, é, ver com os próprios olhos!
Comecei a ter dores cada vez que ela começava a mamar. Naquela altura pensava que a dor era normal no início e, por isso, aguentei. Felizmente não duraram além de uns dias. Imagino que a pequena e eu acabámos por nos acomodar a uma à outra antes de surgirem outras complicações. Mas os problemas estavam à nossa espera no Centro de Saúde…
A A. Não ganhava o peso que era esperado. Tinha que ir de dois em dois dias fazer controlo de peso – o que estava a criar em mim demasiada ansiedade e preocupação. Eu dava a mama em livre-demanda, dormíamos juntas, levava-a sempre perto de mim no porta-bebés… Mas ela chorava muito, dormia pouco e não ganhava peso. O que estava eu a fazer mal? Hoje sei que nada. Fiz – fizemos – da melhor maneira que sabíamos e podíamos na altura.
A nossa enfermeira no Centro de Saúde era e é maravilhosa, mas ficou de férias e, um dia, tivemos de fazer o controlo de peso com outro enfermeiro – que nos disse, diretamente, que a nossa filha estava quase desnutrida e desidratada e nos deu umas garrafinhas de leite artificial, que vinham já com a tetina de biberão. Eu expressei o meu receio de correr o risco de perder o aleitamento materno ou criar problemas como confusão tetina-mamilo, etc. Ele respondeu que isso não iria acontecer e que só deveria dar o leite com a tetina, pois qualquer outro método (copinho, colher, seringa) poderia provocar engasgamento à bebé e pôr em causa a sua vida.
À saída do Centro de Saúde, não conseguia ver nada – só as minhas lágrimas a sair dos meus olhos, cheias de frustração e tristeza infinitas. Eu sabia que a minha filha não tinha sinais de desnutrição e desidratação e sabia que ela podia beber com uma colher, mas estava cheia de dúvidas e inseguranças e não queria dar o leite artificial. O meu cmarido e pai da A. “tomou as rédeas” do assunto e foi, nesse momento, que percebi a importância do papel do pai na amamentação – sem ele não teríamos conseguido. Ele confiava em nós e apoiava-nos. Decidimos não dar o leite e não ir ao controlo de peso até passados uns dias, nos quais eu ia esquecer tudo o que tinha a fazer. Apenas iria descansar, comer e estar com a pequena – ele ocupar-se-ia do resto.
Como por “arte de magia”, depois desses dias, a A. começou a ganhar peso dentro das expetativas dos profissionais de saúde. A nossa enfermeira maravilhosa voltou e verificámos que a A. crescia e desenvolvia-se saudavelmente. Foram três anos de amamentação maravilhosos.